Trabalhamos nas margens. Elas informam a potência criativa, subversiva e da resistência. Durante algum tempo, pessoas que habitaram os centros e circularam em espaços de privilégios onde o poder de decisão sobre as fronteiras se reproduz, viveram preocupadas com as periferias. O mercado da desigualdade é rentável, lucrativo e informa uma estética para onde o centro se volta em busca de inspiração e/ou especulação. A onda conservadora que borra a capacidade de ação, organização e alcance das instituições ‘progressistas’ (universidades, institutos de pesquisa, centros e instituições voltadas ao fomento e à divulgação de arte e cultura) traz aos crentes na modernidade o sentimento de que as coisas mudaram e que, a partir de agora, tudo está mais difícil. Essa fé denota sua posição de privilégio e o esquecimento de que a desigualdade implica num lado a quem sempre foi difícil. E explicita também que os privilégios para avaliar, registrar e conceituar o mundo enuviou que vissem ou roubou-lhes a sensibilidade de enxergar o de fora – antropocegos da razão.
Por isso, partimos da subalternidade, dos espaços de fronteira e da luta. Partimos das experiências de crueldade, sofrimento e privações que infringimos e nos infringiram para pensar daqui pra frente. Estamos vivos e o que fazemos com isso. Os conflitos ontológicos existem porque ainda estamos firmes acreditando na unicidade do mundo. E se abandonarmos de vez as crenças da modernidade? O que acontece com a c(r)iência e a antropologia se partirmos de uma alteridade radical em que não nos importam questões metafísicas, mas somente o pé no chão. Podemos tanto fazer o desenvolvimento de produtos a partir de relações de pesquisa etnográficas, como produção de ações [eventos, performances, intervenções, exposições, cursos, oficinas, desenvolvimento institucional], relações e articulações visando a transformação social.